sábado, 29 de outubro de 2011

Cinco acusações contra o Enem, artigo de Luís Augusto Fischer

Por qual critério se define o "nacional" ou o "regional" no Enem? Arrisco: o critério da atual hegemonia cultural, que é paulistocêntrica
1. CONFUSÃO entre avaliação e seleção. Criado com a saudável finalidade de avaliar os estudantes e as escolas brasileiras, o Enem agora passou, sem muita cautela, a ser um instrumento de seleção para ingresso na universidade.
São, ou deveriam ser, duas atividades muito distintas, que o Brasil lamentavelmente tem misturado desde o começo dos anos 70, quando houve forte aumento do número de formados no ensino médio demandando as escassas vagas superiores, num processo que constrangeu as universidades a barrar candidatos em massa.
Resultou que o vestibular, exame de seleção para ingresso, gerou um rebote e virou critério informal, mas efetivo, de avaliação das escolas e dos alunos, num curto-circuito perverso, agora reiterado pelo MEC.
2. Reforço à supercentralização. Na pior tradição ultracentralista do Estado brasileiro -que, ao longo dos tempos, suga as províncias e esvazia seu poder, cevando com isso a imensa burocracia sediada na capital-, agora o MEC inventa um exame nacional concentradíssimo. O imbróglio do Enem pouco tempo atrás foi fruto de maldade e inexperiência, mas, mais ainda, dessa supercentralização.
Além disso, o Enem, aplicado no país todo, suprimiu temas que chama de "regionais", o que envolve de revoltas sociais e marcos geográficos a escritores e livros. Segundo qual critério se define o "nacional" ou o "regional" não está claro, mas eu arrisco dizer: será o critério da atual hegemonia cultural, que é paulistocêntrica.
3. Desrespeito pela experiência das universidades. Que o MEC quisesse inventar um exame nacional com papel de seleção seria até respeitável, desde que, pelo menos, fosse levada em conta a vasta experiência acumulada nas melhores universidades brasileiras. Ao longo de quase 40 anos, foram elaboradas provas de seleção que representaram incontável avanço, em todas as áreas. As universidades operaram dentro de regras relativamente duras, e o fizeram com grande competência. Por que bom motivo o MEC não considerou essa riqueza acumulada? Nem falemos do processo de atribuição de notas para a redação, que vai ser feito sem a necessária unidade de operação, cada avaliador em sua casa, em outro desrespeito a uma larga e competente tradição das boas universidades brasileiras.
4. Autoritarismo. O MEC induziu as universidades a aceitarem o Enem como vestibular, com uma pequena margem de manobra (margem que foi aproveitada, não por acaso, pelas mais competentes universidades, que, enquanto não forem constrangidas economicamente, vão resistir a ele, espero). O prazo desse processo, considerando a correta lentidão que uma universidade precisa manter, foi estreitíssimo. E a mudança foi divulgada, como se viu em Porto Alegre, com ares de verdade revelada: quadros do MEC vieram à boca da cena, com aquele sorriso desdenhoso de quem tem pouca leitura e muito poder, para regozijar-se com a suposta modernização que anunciavam. Durante a ditadura, é bom lembrar, também se viu isso: a toque de caixa, sem debate público e embalado por um discurso modernizador, o governo federal impôs aquela mixórdia legal que alterou para pior o ensino fundamental e o médio. Um paralelo assustador: àquela época, o MEC quis abolir o ensino de português e literatura, obrigando à medonha "comunicação e expressão"; agora, o MEC nomeia a prova que trata dos mesmos conteúdos com outro horror: "linguagens, códigos e suas tecnologias". Autoritarismo pouco culto, de quem presume estar reinventando o mundo, aliado a redação inepta, em mais um assalto da luta da pedagogia inespecífica contra os "conteúdos" que ela tanto despreza -e ai de quem tenha estudado e valorize algum deles.
5. Desprezo pela história da literatura. O modo de elaborar a prova, na tal área de linguagens, códigos e, argh, suas tecnologias, jogou no lixo a grande tradição de ensino de história da literatura. Há defeitos nela? Por certo que sim, e está aqui um dos tantos críticos dos modelos atuais; mas provavelmente serão proporcionais aos de qualquer outra área. O certo é que o Enem trata o texto literário como apenas um texto entre outros, um poema de Drummond no mesmo patamar que um anúncio de remédio e um cartaz contra o cigarro, sem nenhum contexto. As aulas de história da literatura costumam ser a melhor (quando não a única) porta de entrada oferecida pela escola ao mundo da cultura letrada; abolida do programa do Enem a demanda por essa dimensão, e na assustadora hipótese de o exame vir a ser o vestibular universal para o terceiro grau, o que ocorrerá?
A morte por asfixia da história da literatura parece quase inevitável, e com ela a citada porta de entrada. Isso num governo de esquerda, que costuma alegar gosto pela história.

________________________________________
LUÍS AUGUSTO FISCHER , 51, é professor de literatura brasileira na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e escritor, autor de "Inteligência com Dor" (Arquipélago), entre outros livros.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quem disse que estudante só sabe reclamar?



Já podemos perceber pelas falha recorrentes, que nos moldes atuais, o ENEM nunca irá funcionar. Há imensas discrepâncias regionais entre diferentes estados brasileiros no que se refere a educação, e o ENEM não leva isso em conta.
Falhas e problemas:
1 - Falta logística nacional para a eficiência de um concurso dessa proporção. É improvável que ao percorrer tanto quilômetros e passar por tantas mão, não haja desvio de provas e fraudes.
2 - Ignorar as diferenças educacionais dos 27 estados é favorecer os estudantes quem têm acesso a melhores condições de ensino. É perceptível que São Paulo tem um ensino público melhor que o Gaúcho, assim como o Rio Grande do Sul tem melhor nível de ensino que estados como o Pará ou o Amazonas.
3 - As provas não exigem conhecimento de nível médio dos alunos, são deficitárias no que se refere a conteúdos, o que futuramente causara um deficit nas universidades, colocando no ensino superior candidatos quem não deveriam nem mesmo, ter saído do ensino médio, e em casos mais graves, do ensino fundamental.
4 - As provas em si são problemáticas. Erros de conceitos e interpretação. O número excessivo de questões, num curto período de tempo, sem poder usar lápis e borracha (que convenhamos, não apresenta risco de cola maior que os equipamentos eletrônicos usados por milhares de candidatos, que não são eliminados da prova.
5 - A TRI e todo o mistério que a envolve. Porque o pesos das questões nunca é divulgado? Não acreditamos na lisura de um concurso onde o cálculo da nota não possa ser feita pelos candidatos. É muito fácil que as notas sejam manipuladas, já que não podemos recorrer da correção da prova.

Sei que até agora, só apresentamos problemas, mas também temos ideias para possíveis soluções:
1 - um Exame Regional do Ensino médio - isso diminuiria a discrepância de condições de ensino, assim como diminuiria o risco de fraudes e vazamentos.
2 - uma prova com menos questões e que exija um maior domínio dos conteúdos do ensino médio.
3 - Para incentivar os estudantes a realizarem o ENEM (nacional), ao invés de ser acesso às universidades federais, ele poderia fazer parte da nota final nos 3 anos  do ensino médio. Isso avaliaria o nível de ensino das instituições e serviria como instrumento de real de avaliação da educação nacional.
4 - As provas deveriam ser elaboradas pelas principais universidades federais de cada região, o que garantirá tanto a lisura do concurso, como a abrangência da cobrança de conteúdo, a correção e o nível das questões.
5 - Transparência em TODAS as fases do exame, desde a elaboração até os resultados.

sábado, 21 de maio de 2011

Assim nóis pode fala!


A cada dia, o Excelentíssimo Sr. Ministro da Educação Fernando Haddah, brinda a população com seu ótimo senso de humor. Obviamente, deve tratar-se de um humor extremamente refinado, inclusive, com alguns requintes de perversidade. Não bastasse os sucessivos erros referentes ao Enem, a desvalorização crescente dos professores e a precarização escolar, a intenção agora é acusar a norma culta da língua portuguesa de ser um método de domínio da elite sobre a grande massa. Pretexto: mostrar aos alunos que o falar cotidiano não possui erros desde que o objetivo de comunicar seja alcançado.


O novo livro distribuído pelo MEC para o EJA possui um capítulo que aborda a linguagem culta e a linguagem popular. Com frases extremamente parciais, de que a língua culta favorece as elites, e falando de preconceito lingüístico, o texto explica que não há maneira correta de falar. No entanto, cabe uma pergunta: Será que tanto alunos quanto professores têm condições de compreender a belíssima intenção de incluir a que o livro se propõe?  Dados do CENSO demonstram que, aproximadamente, 32% dos professores de ensino médio e fundamental não possuem graduação de nível superior, e dos 68% restantes, um em cada quatro estudou em uma universidade de má ou péssima qualidade. Após anos afastados da escola, ou depois de passarem anos “empurrando com a barriga” a formação escolar, adultos e jovens terão a tendência de acomodarem-se em sua “ignorância”. Alguns educadores acreditam que colocar em um livro didático frases que contém erro de norma culta, poderá levar a um crescente desrespeito as normas gramaticais, já tão graves e arraigadas na população brasileira. Não bastasse o “internetês” amplamente utilizado pelos jovens, agora é proposto, didaticamente, certa indulgência com relação aos erros contidos na fala popular. Entretanto é ignorado o fato de que, em ambientes formais, os erros da fala são julgados e apontados sim, sendo nesse momento, instrumentos de exclusão e seleção.
Um país com dimensões continentais como o Brasil, não pode levar como corretas de forma geral, as regionalizações da linguagem. A gramática e a norma culta servem acima de tudo, para padronizar e unificar a comunicação nacional. Favorecer os erros da linguagem oral determinará, certamente, um maior número de erros na escrita, e a formação do “bairrismo” lingüístico, que futuramente tornará ainda mais difícil a integração cultural no país. Adaptamos a fala de acordo com nossas necessidades, sem que seja necessário aprender em sala de aula que abreviações e encurtamentos de palavras usuais são normais. A comunicação oral não é estática, ela se adapta aos diversos usos que fazemos dela. Contudo, precisamos de um “norte” gramatical, para que possamos sempre recorrer a uma norma geral e correta, que possa ser utilizada em qualquer ocasião, sem que incorra em erro.
Infelizmente, o Brasil, mostra cada vez mais a sua incapacidade de tornar-se um país desenvolvido.  Uma nação que negligência e desrespeita dia a dia a base de sua potencialidade, a educação, não pode ter a pretensão de crescer. Irmãos! Oremos, agora, de mãos dadas pela moribunda educação brasileira. Caso ela sucumba, sucumbiremos todos às trevas da ignorância e da burrice!

Carla da Cruz Teixeira

sábado, 27 de novembro de 2010

Educação: responsabilidade do estado, direito e dever de todos


Antes do pleito eleitoral de 2010, pesquisas realizadas apontaram três preocupações da população para o próximo governo: saúde, segurança e educação; nessa ordem. Hospitais públicos com demanda acima de sua capacidade, e o crescimento da marginalidade juvenil são questões diariamente debatidas. Entretanto não se percebe que esses fatores estão diretamente ligados à educação.
Nas últimas décadas, essa área vem sofrendo com medidas paliativas e de ilusório aprimoramento. Muito se falou em evasão escolar, e atitudes foram tomadas para diminuí-la. Hoje, os alunos de escolas públicas têm sua progressão de série facilitada e incentivada, para que não desistam de estudar. Resultado: elevado índice de estudantes que concluem o ensino fundamental sem compreender o que lêem, com dificuldade de efetuar cálculos simples e de reconhecer os estados do próprio país em um mapa. Chega então o momento de buscar o ingresso na universidade.
Críticos condenam os vestibulares tradicionais por exigirem muito de seus candidatos, e defendem que alunos provenientes de escolas públicas não conseguem transpor essa barreira rumo ao ensino superior. No entanto, se ambos fazem parte da educação pública, porque o currículo do ensino médio não condiz com o cobrado no concurso vestibular?
É primoroso que entidades conceituadas como a USP e a UFRGS – entre outras – exijam de seus futuros acadêmicos conhecimentos mínimos em todas as áreas do conhecimento científico. Caso contrário, como elas transformarão em engenheiro alguém que não consegue efetuar operações trigonométricas? Como tornarão juiz, aquele que mal conhece a história nacional?
Salários ruins, infra-estrutura precária, falta de segurança, são problemas que corroem as escolas brasileiras. Faltam investimentos e mudanças na base educacional; e a própria população contribui para isso. Vai aos jornais reclamar da carência de leitos no SUS, mas não protestam contra a falta de professores para ensinar seus filhos, e ignoram o fato de que cerca de 60% das enfermidades poderiam ser evitadas por ações profiláticas. Revoltam-se com a violência que lhes bate a porta, mas para um jovem tornou-se mais rentável e proveitoso sucumbir ao crime, a tornar-se professor.
O futuro da nação está sendo menosprezado, pois são os jovens que erguerão o Brasil de amanhã. Não obstante, devem ser respeitados e incentivados a conhecer o que querem construir e mudar na sociedade da qual fazem parte. Mas isso, só uma educação de qualidade poderá proporcionar a eles.

Carla Teixeira

sábado, 20 de novembro de 2010

Aloha

Legião Urbana - Composição: Renato Russo

Será que ninguém vê
O caos em que vivemos?
Os jovens são tão jovens
E fica tudo por isso mesmo.


A juventude é rica, a juventude é pobre
A juventude sofre e ninguém parece perceber


"Eu tenho um coração,
Eu tenho ideais,
Eu gosto de cinema,
E de coisas naturais,
E penso sempre em sexo, oh yeah!"
 

Todo adulto tem inveja, todo adulto tem inveja,
Todo adulto tem inveja dos mais jovens...
 

A juventude está sozinha
Não há ninguém para ajudar
A explicar por que é que o mundo
É este desastre que aí está
 

"Eu não sei, eu não sei"

Dizem que eu não sei nada
Dizem que eu não tenho opinião
Me compram, me vendem, me estragam
E é tudo mentira, me deixam na mão
Não me deixam fazer nada
E a culpa é sempre minha, oh yeah!


E meus amigos parecem ter medo
De quem fala o que sentiu
De quem pensa diferente
Nos querem todos iguais
Assim é bem mais fácil nos controlar
E mentir, mentir, mentir
E matar, matar, matar
 

O que eu tenho de melhor: minha esperança

Que se faça o sacrifício
Que cresçam logo as crianças.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lula, não adianta mais tentar, O novo ENEM tem que acabar! - Por ANEL

ANEL vai pra MTV hoje denunciar esse projeto e questionar a UNE

No último final de semana, os 3,5 milhões de jovens que fizeram as provas do ENEM foram surpreendidos por mais uma crise: os gabaritos errados em 2 mil provas. A Justiça Federal suspendeu o ENEM alegando que ele prejudicou alguns estudantes, devido aos erros dos gabaritos. O MEC está recorrendo a essa decisão, para não aprofundar a desmoralização que sofre com esse projeto desde o ano passado, com o roubo da prova. Agora os 3,5 milhões de estudantes que fizeram a prova não sabem o que será de seu futuro.
Desde a criação desse projeto, a ANEL vem questionando sua existência, pois esse projeto aprofunda as desigualdades existentes no vestibular tradicional, afinal se antes essas desigualdades já eram estabelecidas entre aqueles que podem pagar um cursinho e aqueles que não podem, agora a desigualdade se estende para as diferenças regionais.
No final de 2009, os 4 milhões de inscritos foram surpreendidos pelo roubo da prova, revelando, assim, além de um projeto excludente, muita incompetência para sua aplicação. Esta incompetência se manifestou também com a divulgação de dados dos estudantes que estavam inscritos para a prova de 2009.
No período de matrícula dos estudantes aprovados em 2009 nas Universidades Federais, mais uma vez ficou revelado como o novo ENEM não serve para a democratização do acesso. A aposta feita na mobilidade estudantil, que em tese permitiria aos estudantes mais alternativas de desfrutar os cursos oferecidos pelo conjunto das universidades Brasil afora se mostrou uma farsa. No próprio documento do governo de apresentação do projeto do novo ENEM, reconhece-se que apenas 0,4% dos calouros das universidades não pertenciam ao seu estado de origem. O projeto do novo ENEM atribuiu isso à forma descentralizada de seleção. O movimento estudantil atribuiu isso historicamente à não garantia de acesso e permanência no conjunto das universidades brasileiras, falta de acesso à moradia, bolsas, alimentação, etc. A comprovação de que essa prova unificada não reverteria o problema foi na quantidade de vagas ociosas no início do ano, com cursos, como o Direito da Universidade Federal dos Pampas, com até 82% de ociosidade, isso em um país em que apenas 4% dos jovens estudam nas universidades públicas.
Essa combinação de problemas foi coroada pela divulgação das notas do ENEM que demonstrou que esse projeto facilitou a vida apenas para quem pode pagar para estudar, afinal dentre os 10% dos colégios mais bem colocados (1.793), apenas 8% são públicos. O primeiro colégio público sem seleção no país aparece na 729ª posição geral.
Entre a prova de 2009 e a prova de 2010, havia um grande questionamento e desmoralização sobre esse projeto. A prova de 2010 seria a segunda chance do governo. Mas, mais uma vez prevaleceu a incompetência e quem está pagando são os 3,5 milhões de estudantes que sofrem a angústia sobre o seu futuro.
A juventude brasileira não merece isso. O Brasil é um país muito rico, cheio de recursos que permitem que toda a juventude possa ter acesso ao ensino superior, não fosse a distribuição desigual desses recursos. Hoje, apenas 4% do PIB do país é investido em Educação. Em contrapartida, 36% do orçamento da União executado em 2009 foi destinado para pagar os juros e amortizações da dívida pública. Os projetos de expansão das universidades propostos pelo governo permitem um ritmo de expansão que colocaria 30% dos jovens no ensino superior só em 2069, ou seja, daqui a 59 anos, uma meta estipulada pelo Plano Nacional de Educação (2001) para 2010.
A Constituição de 1988 prevê em seu artigo 205 que a Educação é um direito de todos e um dever do Estado, assim os recursos do país deveriam estar voltados para garantia do acesso e permanência ao ensino superior a todos os jovens.
A luta pelo fim do vestibular está relacionada com a garantia desse princípio constitucional que nunca foi respeitado em nosso país. As poucas vagas oferecidas nas Universidades públicas só estão disponíveis para aqueles que podem pagar escolas e cursinhos caros e as vagas das universidades privadas são acessíveis para quem pode pagar mensalidade.
Com o dinheiro que o governo deixou de receber com a isenção de impostos do PROUNI investido nas universidades públicas, seria possível triplicar o número de vagas nessas universidades e assim, a satisfação desses jovens seria muito maior, pois teriam acesso a um ensino, pesquisa e extensão de muito mais qualidade e públicos. Também não concordamos com a expansão através do REUNI, pois esta expansão coloca em contradição expansão e qualidade, algo que não deveria existir em um país repleto de recursos como o nosso.
Acreditamos que o livre acesso ao ensino superior é o que acaba com esse filtro social que se configurou o vestibular, que coloca as universidades públicas em um horizonte muito distante aos jovens que não tem condições de pagar para estudar. Aos jovens que entram nessa disputa, o vestibular impõe uma relação completamente equivocada com o conhecimento.
Qualquer que seja a saída adotada pelo MEC diante dos erros na aplicação da prova é incapaz de salvar a credibilidade do ENEM. Com esses erros, nem a perversa lógica meritocrática defendida pelo projeto foi atendida. Assim, perante essa situação, a saída menos prejudicial aos estudantes é a realização de uma nova prova, disponível a todos os estudantes que se sentiram prejudicados pelos erros e garantindo que a maior nota é a que valha para o estudante que fizer duas provas.
Esta alternativa de resolução não pode perder de vista a origem do problema que é a existência de um filtro social para entrada nas universidades brasileiras, que colocam para apenas 4% dos jovens o direito de usufruir do ensino superior público brasileiro.
Infelizmente, a UNE e a UBES estão, mais uma vez, se comportando como um órgão governamental, como uma ouvidoria do Ministério da Educação para defender esse projeto que vai contra os interesses estudantis. É lamentável que uma entidade estudantil construída no seio de tantas lutas tenha hoje se tornado um departamento do MEC e que nos momentos críticos como esse que passam 3,5 milhões de jovens, esteja se articulando para defender o indefensável, o projeto falido do governo.
Também é lamentável ver a postura do MEC em tentar perseguir e reprimir os estudantes que estão articulando a organização dos atos do dia. A UNE diz questionar esse “clima de perseguição”, mas o que o MEC fez é muito pior, em lugar de utilizar seu twitter para orientar os estudantes, utilizou para reprimir e ameaçar, tratando os estudantes que foram prejudicados com o erro da prova como os culpados, dizendo que eles “dançaram”. Um tremendo absurdo sobre o qual temos que expressar nossa indignação.
Hoje, a ANEL estará no Debate MTV discutindo a seguinte questão: o ENEM tem que acabar? Estaremos lá denunciando o caráter excludente desse projeto, apresentando a luta pelo fim do vestibular e denunciando a postura absurda da UNE e da UBES.

NÃO AO NOVO ENEM!
- REVOGAÇÃO IMEDIATA DO NOVO ENEM E DO SISU!
10% DO PIB PARA A EDUCAÇÃO!
POR UMA EXPANSÃO COM QUALIDADE!
LIVRE ACESSO A TODOS! PELO FIM DO VESTIBULAR!

domingo, 14 de novembro de 2010

Carta de Repúdio ao Enem - Por Chayene Amor Teixeira Bonori

Faço questão de deixar registrada a minha mais profunda revolta em relação ao Enem, à forma como o assunto está sendo visto e tratado pelos representantes do Inep e principalmente à forma como nós estudantes estamos sendo tratados neste cenário deplorável e peço encarecidamente que se façam públicas as minhas palavras.
Meu nome é Chayene Bonorino, tenho 25 anos, atualmente faço um curso pré-vestibular e outros cursos que me preparam para prestar vestibular para o curso de Administração na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma instituição séria da qual terei orgulho de fazer parte.
Pela primeira vez que fiz a prova, há 8 anos atrás, a fiz com a intenção inicial de testar meus conhecimentos. Nos anos seguintes novamente fiz a prova, destas vezes com a intenção de pleitear bolsas pelo sistema PROUNI, que começava a deslanchar. Não tendo sucesso me lancei em uma universidade privada e com muito esforço consegui fazer alguns semestres até ter que parar de vez (por conta das despesas) e começar a me preparar para tentar entrar numa universidade federal. Depois de todos os esforços nunca pensei que teria que me sujeitar a uma situação tão descabida como os acontecimentos durante as provas do ENEM deste ano.
O que nós estudantes estamos passando em relação ao ENEM é simplesmente INACREDITAVEL!!! Primeiro tentaram nos fazer acreditar numa prova que nos parecia fraca em seus conteúdos, mas que poderia representar um passaporte a tão sonhada bolsa do PROUNI ou mesmo a própria vaga na universidade. Depois a prova veio crescendo ao longo dos anos e sendo cada vez melhor trabalhada, até que enfim ela DESMORONA DEFINITIVAMENTE no conceito até do mais positivo dos estudantes.
QUAL É O SIGNIFICADO DESDE PROCESSO DE INGRESSO AO ENSINO SUPERIOR? QUAL É A SUA INTENÇÃO? O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?
Como querem fazer de uma prova cheia de controvérsias, com casos de fraudes há dois anos, escândalos de provas vazadas, erros de impressão, falhas mais que grotescas no monitoramento dos participantes durante a prova, a forma de ingresso ao ensino superior de futuros médicos, advogados, professores?
Hoje nos cobram respostas de todos os lados, a sociedade nos cobra, nossas famílias nos cobram, nos pedem a todo momento que provemos o quanto somos suficientemente bons para ocuparmos as vagas das instituições de ensino públicas e privadas e isso tudo para quê? Para nos desgastarmos fazendo uma prova sem o mínimo de zelo pela decência? Sim, pela decência, pois o que presenciamos chega ao ponto da indecência. Ouvi relatos de que participantes haveriam tido 1 hora a mais para fazer a prova, provas com cabeçalhos trocados (na minha sala recebemos o aviso quase uma hora depois do início da prova, onde muitos já haviam feito marcações na grade de respostas), questões duplicadas em algumas provas, pessoas sem o mínimo preparo para a monitoria de uma prova que se propõe séria e respeitosa. O QUE É ISSO??? Na sala onde fiz a prova, após o toque do sinal para início da prova nós fomos orientados a não começar a prova até que após alguns minutos, por questionamento de alguns participantes que ali estavam, fomos autorizados a começá-la. Nem preciso dizer que não tive sequer 1 minuto a mais após o sinal de término, ou seja, perdi aí alguns sagrados minutos. No segundo dia, precisou vir uma pessoa da coordenação da prova para questionar as 3 fiscais que ali estavam, pois tinham participantes na sala com relógios digitais, bonés....como pode? NÓS NÃO PODÍAMOS UTILIZAR LÁPIS E BORRACHA PARA FAZER A PROVA, MAS TINHAM PARTICIPANTES USANDO RELÓGIOS ?? E se esse coordenador não passasse por ali e cobrasse das fiscais que elas de fato FISCALIZASSEM e pedissem que o candidato retirasse o relógio? E se fosse algum aparelho receptor de mensagens? Sim, são apenas “suposições” eu sei, mas chegamos à questão: até que ponto podemos confiar nessa prova? Não sei. Sinceramente não sei e é isso o que mais me incomoda. Como podem ter havido apenas cerca de 1% de provas com erro de impressão sendo todas provenientes da uma mesma matriz? Tinham mais “matrizes”? Tenho minhas dúvidas.
Quando retornei da prova e cheguei exausta em casa, meu sentimento era de decepção, pois achei que eu poderia ter me saído melhor na prova, mas para a minha surpresa, logo no dia seguinte veio a notícia do caso do mineiro e depois o do repórter do jornal pernambucano que entrou na sala de aula para fazer a prova portando um celular ligado no bolso e que informou de dentro das dependências da escola qual era o tema da redação, ou seja, neste caso a intenção era mesmo provar o quanto foram graves as falhas na aplicação da prova, mas e se não fosse? Ora, possivelmente este seria meu concorrente, estaria “prestando suas contas à sociedade”, talvez quase gabaritando a prova, talvez entre os 10 primeiros colocados – concorrendo, inclusive, a bolsas em universidades no exterior - ou ocupando a vaga de qualquer outro estudante em qualquer universidade que ele escolhesse no Brasil, esta vaga poderia ser de um estudante que estivesse se preparando o ano inteiro para esse processo, gastando com cursos preparatórios, “perdendo” horas e horas estudando, poderia ser de um estudante que estivesse ali apenas “matando” o tempo ou apenas para registrar para os pais que “fez a prova”. Poderia ser A MINHA VAGA. A vaga para a qual tenho a muito custo me preparado e que até agora não consegui conquistar.
EXIJO RESPOSTAS!!!! QUERO TODAS AS EXPLICAÇÕES QUE ATÉ AGORA NÃO ENCONTREI PARA O SIGNIFICADO DE ISONOMIA!!!
QUE NÃO ME VENHAM COM A INDECENTE PROPOSTA DE REAPLICAR A PROVA APENAS PARA OS “2.000 CANDIDATOS QUE FORAM PREJUDICADOS” PELOS ERROS DE IMPRESSÃO!!!! FOMOS TODOS PREJUDICADOS!! TIVEMOS TODOS NOSSAS EXPECTATIVAS FRUSTADAS E AINDA AGORA ME VÊM COM ESSA CONVERSA DE TRATAR OS CASOS ISOLADAMENTE??? ORA, FRANCAMENTE! TIVEMOS CASOS ISOLADOS EM TODO O BRASIL!!! E AINDA QUEREM NOS SUBMETER A UMA NOVA PROVA??? OU QUEREM DAR MAIS TEMPO PARA QUE OS “2.000 PREJUDICADOS” (COMO SE FOSSEM APENAS 2.000) SE PREPAREM PARA REFAZER A PROVA? NÃO! NÃO POSSO ACEITAR QUE TENHAM CONSIDERADO OU SEQUER COGITADO ESSA POSSIBILIDADE!
QUE NÃO SE FAÇAM DE SONSOS EM QUERER FAZER ACREDITAR QUE ESTE PROCESSO FOI “UM SUCESSO”, POIS TODOS SABEMOS QUE AS FALHAS SÃO GRAVES, MUITO MAIS GRAVES DO QUE OS ERROS DE IMPRESSÃO.
QUANTAS PESSOAS ESTARIAM ENCABEÇANDO O RANKING DO ENEM NO ANO QUE VEM FRAUDANDO A PROVA, COM CELULARES, RELÓGIOS, ENFIM, TIRANDO A MINHA CHANCE E A DE TANTOS OUTROS DE CURSAR O ENSINO SUPERIOR DEPOIS DE 1 ANO DE ESTUDOS OU MAIS E AINDA RINDO DA NOSSA CARA??????
QUE NÃO ME DIGAM QUE “FALHAS ACONTECEM”!!! ESSE TIPO DE FALHA NÃO PODE ACONTECER!!! CERTAMENTE OS FILHOS OU FAMILIARES DAS PESSOAS QUE DIZEM QUE “FALHAS ACONTECEM” NÃO SE SUJEITARIAM A ESTE TIPO DE “FALHAS”! AH! MAS É CLARO QUE DA MESMA FORMA ESSES FILHOS E FAMILIARES NÃO PRECISAM SE SUJEITAR A ISSO...DEVEM RECEBER BELAS MESADAS E TER FUTUROS PROMISSORES PELA FRENTE....DEIXEM ESSAS PREOCUPAÇÕES PARA GENTE COMO EU QUE QUASE MORRE ESTUDANDO E TRABALHANDO E FAZENDO TODO O POSSÍVEL E IMPOSSÍVEL PARA DEPOIS TER QUE ACEITAR QUE ESSAS “FALHAS” ACONTEÇAM...
ISSO NÃO SÃO FALHAS, SÃO OS MEUS DIREITOS COMO ESTUDANTE, COMO CIDADÃ, QUE ESTÃO SENDO SIMPLESMENTE IGNORADOS AO SE PERMITIR QUE OCORRAM ABSURDOS COMO ESTE NUMA PROVA QUE TÊM A PRETENSÃO DE REPRESENTAR O ENSINO BRASILEIRO.


QUERO RESPOSTAS.


.