quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Carta Manifesto - ENEM 2010 - Por Guilherme Lannig


Frente aos problemas apresentados na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizado nos dias 6 e 7 de novembro, venho através desta carta expressar um manifesto exaltando os valores democráticos, igualitários, éticos e preservando esse instrumento de isonomia que é o concurso ora em pauta.
Infelizmente, não vejo alternativas para a manutenção do ENEM para o presente ano de 2010. A prova deve ser cancelada, não remarcada como sugerem os institutos de defesa e de aplicação do exame. A simples anulação acarreta uma série de questões em que estariam ferindo o princípio de igualdade e isonomia entre os participantes do ENEM, uma vez que todos acabamos prejudicados durante a aplicação da prova, seja de maneira direta ou de maneira indireta. A marcação errônea na grade de respostas pela inversão dos subtítulos (erro reconhecido pela gráfica responsável em âmbito nacional) prejudicou boa parte dos candidatos pelo despreparo de alguns fiscais não informados a tempo de passarem as devidas informações. O erro nas questões impressas em alguns cadernos de questões da cor amarela também prejudicou outra parcela dos concorrentes, alijando-os de um tempo – escasso pelo volume de testes a serem respondidos – na troca dos exames por outros sem os referidos problemas.
Porém, não apenas esses estudantes foram cerceados do direito de realizarem um concurso idôneo e com uma proposta tão nobre como o ENEM. As constantes divulgações de polêmicas como o vazamento do tema da proposta de redação meia hora após o início do exame no domingo (7) colocou em xeque a utilização de aparelhos telefônicos durante a realização do concurso, o que, evidentemente, causa um prejuízo a todos os concorrentes porque configura uma violação das regras estabelecidas em edital. Outros relatos apontam para a utilização de lápis, relógios e outros instrumentos proibidos, bem como fatos em que os candidatos utilizaram até 1 hora a mais de tempo para resolver a prova, entre outros fatos isolados que ocorreram em todo o território nacional que configura um total prejuízo direto a todos os participantes do ENEM 2010.
Sugere-se a anulação da prova e remarcação da mesma para nova data a ser divulgada. Ora, tal medida configura novo prejuízo aos participantes que, individualmente e por méritos próprios, conseguiram obter um bom desempenho na avaliação. Não há garantias e proteção metodológica que assegure um mesmo desempenho satisfatório em duas provas distintas. Mesmo a utilização da nota maior entre os dois testes configura prejuízo para aqueles que não participaram do ENEM por motivo de atraso e que agora poderão participar. Novamente, haverá perdas e prejuízos aos maiores interessados: os candidatos a uma vaga nas diversas universidades do Brasil.
Diante de tantas controvérsias e sem a possibilidade de enxergar uma solução satisfatória, democrática e igualitária, não há outra solução senão o cancelamento total do ENEM 2010. O cancelamento e a imediata comunicação às universidades que aderiram à nota total do ENEM como critério de ingresso em seus cursos, possibilitando ainda tempo hábil para a realização de processos seletivos independentes, via concurso vestibular. A medida proposta visa, também, a uma pequena reflexão aos ministérios competentes e responsáveis pela elaboração do ENEM acerca da importância de uma reformulação administrativa, contextual, avaliativa e estruturante de tudo aquilo que é a proposta básica do Exame: a possibilidade de ingresso em universidades públicas para toda a população.
Faz-se necessário uma modificação geral e, para isso, deve-se começar desde agora para que novos problemas não continuem manchando a imagem do ENEM para as próximas edições. Espero com essa reflexão, disponibilizar uma auto-análise dos pontos negativos do concurso para uma providência eficaz e fulminante que resulte numa prova qualificada, digna de ser utilizada por todas as universidades do Brasil.
Essa reestruturação proposta não se faz rapidamente. Torna-se indispensável um momento de reflexão e a hora é agora. Nós, estudantes, não podemos ser prejudicados mais uma vez por um erro que não foi nosso. Pedimos, humildemente, que reflitam nos transtornos causados a 4,6 milhões de brasileiros. Não utilizem o nome da Justiça para cometer a maior das injustiças contra uma população que só quer estudar, aprender e ajudar a tornar o Brasil um país cada vez melhor, para nossas famílias e para toda a sociedade.

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